No dia 2 de Julho de 1706 D. Beatriz Kimpa Vita, foi queimada na fogueira
devido às suas pretensões de ter recebido de Santo António o mandato de
resgatar o povo do Reino do Congo do marasmo social, político e religioso em
que tinha caído.
Kimpa Vita, disse: No dia do Juízo
final Deus não me perguntará se sou do Congo. Olhará, isso sim, para a transparência da minha alma.
A“Joana d’Arc africana”, Profetisa popular, Kimpa Vita foi condenada à
morte na fogueira pelo Manikongo (Rei do Congo) Pedro IV a 2 de Julho de 1706 –
com a benesse e aprovação dos padres portugueses. Imagino que tudo tenha sido
encenado à boa maneira da inquisição...
Consta ainda, que o filho de Kimpa Vita foi atirado para a fogueira com a mãe...
Tudo pelo bem da Santa Igreja Católica Romana e claro, dos interesses
coloniais.
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Eis o artigo publicado no Jornal de Angola - 13 de Novembro de 2011:
Data de nascimento : 1684
Data falecimento: 1706 (Mbanza Kongo)
Naturalidade : Reino do Congo
A polémica instalada em torno do pensamento histórico da profecia de
Beatriz Kimpa Vita, figura emblemática da angolanidade, queimada numa fogueira
pelos portugueses, em 1706, em Mbanza Congo, no Zaire, é reflectida neste
espaço do “Caderno Fim-de-Semana”.
Aos 24 anos de idade, segundo palavras do filósofo angolano José Calhau,
professor universitário na província do Zaire, Dona Beatriz Kimpa Vita, como
era carinhosamente tratada, foi lançada viva para uma fogueira, na companhia do
seu filho, por ter reivindicado de forma resoluta o fim da escravidão a que os
negros eram sujeitos pelos colonizadores, na antiga cidade de São Salvador do
Congo, hoje Mbanza Congo, capital da província do Zaire.
Fazendo jus às investigações realizadas durante quatro anos, em Mbanza
Ngungu, região do Baixo Congo, na República Democrática Congo, onde reuniu
todos os legados científicos que serviram de base ao seu trabalho, em
potenciais bibliografias, José Calhau fez uma analogia histórica sobre a
trajectória da vivência de Kimpa Vita e lembrou as reacções apresentadas pela
senhora, a julgar pelas injustiças dos colonizadores, acto que lhe custou a
vida muito cedo.
Para Zolana Avelino, sociólogo, falar de Kimpa Vita é fazer recurso a uma
história de relevo, versada na cultura Congo. “Os contos dela espelham a
profeta que era e que doutrinou e defendeu a revitalização das raízes mais
profundas da cultura tradicional do Congo, através da religião “Bundu die
Congo”. Era, também, considerada a líder que, na época, inspirou o lançamento,
em Mbanza Congo, de um movimento de messianismo virado para a preservação da
cultura tradicional africana, que teve uma adesão espectacular por parte dos
fundadores da igreja kimbanguista de Simão Kimbangu, na República Democrática
do Congo, Simão Gonçalves Toco, em Angola, Simão Mpidi, também na RDC, e André
Matsowa, no Congo Brazzaville.
O objectivo central desse movimento de messianismo tradicional, acrescentou
o sociólogo, tinha como base fulcral o resgate e o relançamento dos valores dos
povos africanos, que na época ressentiam a invasão da acção colonizadora para
melhor implantar o cristianismo em África. Após a sua morte, tal como referiu o
sociólogo, o movimento do messianismo tradicional perdeu expressão e acção de
continuidade. Assim, os colonizadores galvanizaram-se de “pedra e cal” e
conseguiram impor o cristianismo até aos dias de hoje.
Depoimentos
Zolana Avelino prosseguiu dizendo que até ao momento a igreja kimbanguista,
que tem como líder espiritual o neto do fundador Simão Kimbangu, Kiangani,
reconheceu perante o governador do Zaire, Pedro Sebastião, durante a visita que
este efectuou recentemente à sede central daquela congregação religiosa, na
localidade do Nkamba, na RDC, que o município de Mbanza Congo é tido como sendo
a terra das origens de grande parte dos povos de África. O líder espiritual da
igreja kimbanguista manifestou a vontade de se deslocar a Mbanza Congo para
visitar o local onde repousam os restos mortais de Dona Beatriz Kimpa Vita,
para uma homenagem em prol da doutrina e valioso legado que deixou profetizado.
Para Celestina Paixão, estudante universitária, Kimpa Vita desmistificou
todas as agruras impostas contra a cultura Congo. Desempenhou importante papel
na luta pela pacificação dos espíritos. Prova eloquente disso, sublinhou a
estudante, como símbolo de reconhecimento, o seu nome é valorizado. O valor é
justificado por ser defensora confessa da paz e do fim da escravidão em Angola.
Hoje, o seu nome é atribuído a várias instituições de ensino no país e em
Mbanza Congo as autoridades deram o seu nome a uma avenida.
Segundo Celestina Paixão, além de ser, naquela época, uma profeta
tradicional, Kimpa Vita, ao que se diz, foi uma jovem mulher temida pelos
colonos pela forma frontal e aberta como se dirigia sempre que constatasse
actos de violação de direitos humanos contra os seus compatriotas. Abordado
pelo Jornal de Angola, o director da Escola Superior Politécnica de Mbanza
Congo, Duku de Tshiangolo, defendeu a necessidade da preservação da figura de
Kimpa Vita, por tudo aquilo que fez. Explicou que Dona Beatriz Kimpa Vita
deixou um legado histórico ao país, revolucionou o pensamento da liberdade do
homem angolano e declarou a luta contra a escravidão, a opressão e o
divisionismo para pôr cobro às sevícias que o colonialismo português impunha
aos povos de Angola.
Igreja
De acordo com o filósofo José Calhau, “foi uma pena enorme porque, após a
morte de Kimpa Vita, a região Congo esteve sujeita a abusos redobrados e há
quem tenha utilizado a igreja como meio de exploração e opressão, para melhor
reinar e causar prejuízos nefastos e perseguições aos fiéis que professavam, às
escondidas, a linha de Kimpa Vita, ao passo que outros portugueses
revolucionavam a religião como fonte de poder e dominação das pessoas negras de
competência rara”.
José Calhau, explicou que “em nome da religião, na época, foram também
articuladas guerras injustificáveis para poder abafar a liberdade e a honra do
homem angolano, e da etnia Congo em particular, por apresentarem forte
resistência às humilhações.”
Profeta tradicional
Kimpa Vita, segundo o professor Calhau, era tida como líder incontestada
nas suas posições. “Aquela mulher histórica angolana já escrevia livros que
retratavam temas sociais em defesa dos aborígenes da região. Manifestava total
indignação nas suas obras literárias contra o espírito católico, que reinava na
sua cidade natal, Mbanza Congo, a respeito da continuidade do obscurantismo no
seio dos povos da sua região e do tráfico de seres humanos que na altura era
prática corrente”.
Ainda muito jovem, aos 18 anos de idade, segundo José Calhau, Kimpa Vita,
que nasceu em 1684, já exprimia sentimentos de repulsa contra os sofrimentos e
privações dos seus compatriotas submetidos a trabalhos forçados e maus-tratos,
vítimas de escravidão. Sobressaía nela a vontade de dirigir uma frente
declarada de luta contra o regime colonial, devido à onda de injustiças
vividas. Dona Beatriz Kimpa Vita contestava o fanatismo abraçado por alguns
compatriotas atraídos por receios e medo. “Os seus ensinamentos continuam
patentes na memória dos povos”, disse o professor José Calhau.
Retirado de MRFPress
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