30 de setembro de 2013

SELECÇÃO FEMININA DE BASQUETE BICAMPEÃ AFRICANA

A selecção feminina de basquetebol de Angola sagrou-se, este domingo, bicampeã africana, ao bater Moçambique na final do Afrobasket, por 61-64.

Angola é bicampeã (foto SÉRGIO COSTA - ASF) 

UM LIVRO INTERESSANTE (Angola, O Princípio do Fim da Uniao Soviética)


Artigo publicado no Público sobre o livro: "Angola: O Pincípio do Fim da URSS" 
""URSS quase apoiou a FNLA e admitiu apostar em Savimbi" 
Por João Manuel Rocha

A ideia de que a União Soviética (URSS) sempre esteve de alma e coração com o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), que assumiu o poder após a independência, é falsa. No início dos anos 1960, Moscovo esteve prestes a reconhecer a rival FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola), o que só não aconteceu devido à intervenção do líder comunista português, Álvaro Cunhal.
Já na época de Mikhail Gorbatchov, responsáveis de Moscovo viam com bons olhos Jonas Savimbi e a sua UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola) e o último líder soviético encorajou o diálogo com o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, estava disposto a iniciar com os adversários políticos. As novidades constam do livro Angola - O princípio do fim da União Soviética, de José Milhazes, editado pela Nova Vega e ontem lançado em Lisboa. Baseado em fontes russas, documentos, artigos e entrevistas, revela episódios inéditos e mostra que não havia unanimidade em Moscovo sobre a intervenção na ex-colónia portuguesa.
O quase reconhecimento da FNLA como "legítimo representante" angolano chegou a ser ordenado pelo então líder soviético Nikita Krutchov, em 1963. O episódio revela "a confusão que reinava em Moscovo em relação à sua política africana". Documentação citada indica que, paralelamente aos contactos com o MPLA, a espionagem soviética procurou estabelecer laços com a UPA (União dos Povos de Angola), antecessora da FNLA, e a UNITA. José Milhazes, ex-correspondente do PÚBLICO em Moscovo, cita as memórias de Piotr Evsiukov, um alto funcionário que, durante 15 anos, dirigiu os contactos com os movimentos de libertação, segundo o qual, sem a intervenção de Cunhal, a URSS teria reconhecido FNLA de Holden Roberto.
O apoio militar que se revelou fundamental para o MPLA em 1975 também não se concretizou sem dúvidas de Moscovo. "Não havia unanimidade face à intervenção das tropas cubanas em Angola e ao envolvimento da URSS", escreveu Milhazes. A partir de testemunhos de responsáveis soviéticos, concluiu que "Cuba decidiu intervir militarmente em Angola com ou sem autorização de Moscovo" e que no terreno havia "sérias divergências" entre o comando das tropas cubanas e os conselheiros soviéticos.
A boa impressão que Savimbi causou, em 1988, ao então ministro de Negócios Estrangeiros de Moscovo, num encontro na ONU, fez com que a URSS tenha estado "próxima de apostar em Jonas Savimbi", revela Milhazes. "Depois do encontro de [Eduard] Chevarnadze com Savimbi, em Nova Iorque, em Moscovo quase surgiram hesitações: em que apostar em Angola?", contou ao autor o então embaixador em Luanda, Vladimir Kazimirov.
No mesmo ano, José Eduardo dos Santos encontrou-se com Gorbatchov e informou-o de que ia conversar sobre a UNITA com o rei Hassan II, de Marrocos, ao qual Savimbi teria admitido afastar-se, se isso contribuísse "para a solução positiva do problema". No diálogo, relatado no livro, o actual Presidente admitiu a integração de elementos da força inimiga no processo político. "Não como militantes da UNITA, mas como particulares. Alguns farão parte do Governo", disse.
Atritos graves
Outra das revelações do livro é o fuzilamento, em 1973, por ordem de Agostinho Neto, de cinco adversários no MPLA, acusados de uma conjura em que também estaria envolvido Daniel Chipenda, "número dois" da organização. O facto desagradou aos soviéticos, tal como o acordo, assinado em 1972, para uma frente MPLA/FNLA onde Agostinho Neto teria aceite ser "número dois". Os documentos citados revelam uma "desconfiança mútua" entre os dirigentes de Moscovo e o primeiro Presidente angolano e "indecisões na direcção política" sobre quem apoiar que se prolongaram até muito perto da independência.
Os "atritos graves" com Neto levaram já diversos estudiosos a considerar que os soviéticos incentivaram o então ministro do Interior, Nito Alves, a liderar a contestação ao rumo do MPLA, numa acção que culminou com milhares de mortos. Milhazes escreve que Neto não só acreditou nessa tese como "foi de propósito a Moscovo pedir explicações" a Brejnev, então secretário-geral soviético, e exigiu o afastamento de dirigentes da representação militar em Luanda. O autor confirma que "os soviéticos depositavam confiança" em Nito Alves, mas não conseguiu ser conclusivo sobre o seu papel nesse episódio devido à dificuldade de acesso aos arquivos soviéticos e ao silêncio e contradições dos entrevistados.
Já sobre os rumores de que Neto foi assassinado durante uma operação, em 1979, Milhazes diz que são "um disparate". "As autoridades soviéticas não queriam que Agostinho Neto fosse operado em Moscovo, pois sabiam do seu real estado de saúde, mas, por outro lado, não podiam recusar, para não afectar a credibilidade do país", escreveu. O autor é também de opinião que, sem esquecer o Afeganistão, a intervenção em Angola ajudou à queda da URSS. "A estrutura soviética fica, do ponto de vista económico e até militar, fortemente abalada."

25 de setembro de 2013

NAMORO, DE VIRIATO DA CRUZ (VERSION FRANCAISE)



COUR (Namoro, versão francesa)

Je lui ai envoyé une lettre au papier parfumé,
et de ma plus belle écriture je lui ai dit qu'elle avait
un sourire lumineux si chaleureux et gai
comme le soleil de novembre jouant à l'artiste dans les acacias fleuris, propageant des diamants sur les franges de la mer
et donnant chaleur au jus des mangues

que sa douce peau - était du kapok...
que sa douce peau - avait la couleur du jambosier, parfumée aux roses
si ferme et si douce - comme le maboque
que ses seins étaient des oranges - des oranges du Loje
ses dents - de l'ivoire...
Je lui ai envoyé cette lettre et elle a dit non.

Je lui ai envoyé une carte
que l'ami Maninho avait typographié :
"Mon coeur souffre pour toi"
dans un chant - Oui, dans l'autre - Non
et elle n'a pas adoucit son chant.

J'ai envoyé un message à Joseph le septième
en demandant, en suppliant à genoux,
par Notre Dame du Cap, par Sainte Iphigénie,
qu'il me donne la joie de son amour...
Mais elle a dit non.

J'ai envoyé à Grand mère Chica, sorcière de renom,
le sable de l'empreinte que son pied avait laissé
pour qu'elle lui jette un sort puissant et sûr,
et qu'un amour aussi fort que le mien naisse en elle...
et le sort a échoué.

Je l'ai attendu l'après midi, à l'entrée de l'usine,
je lui ai donné un collier, un anneau et une broche,
je lui ai payé des bonbons sur le trottoir de la Mission,
nous sommes restés dans une banque de la place de la Statue,
j'ai touché ses mains... Je lui ai parlé d'amour...
Et elle m'a dit non.

Je marchais hirsute, sale et sans chaussures,
comme un monangamba.
On me cherchait :
"- N'as tu pas vu (ai, n'as tu pas vu ?), n'as tu pas vu Benjamim ?"
et on m'a retrouvé perdu dans un bidonville de Samba.

Pour me distraire
on m'a emmené au bal de la Saint Janvier
mais elle y était, dans un coin, à rire,
racontant mon malheur
aux plus belles filles du quartier des travailleurs.

On a joué une rumba - j'ai dansé avec elle
et dans un pas fou nous avons volé dans la salle
comme une étoile striant le ciel !
et la bande s'est écriée : " Ai, Benjamim !"
je l'ai regardé dans les yeux -elle m'a sourit
je lui ai demandé un baiser - et elle m'a dit oui.


Viriato da Cruz (Porto Amboim, 1928 – Beijing, 1973)
Tradução em francês:
L'Actu Littéraire

Nota de Namibiano Ferreira:

Nesta bela tradução que se encontra publicada aqui (https://www.facebook.com/lactulitteraire) há dois versos com os quais não concordo e são, primeiro:
“J'ai envoyé un message à Joseph le septième”, se o meu pobre francês não me engana, isto não é a mesma ideia que o verso em português, ora vejamos: “Mandei-lhe um recado pela Zefa do Sete”, a mensagem/recado foi enviada por Benjamim não para (à) mas pela, creio eu que em francês deveria ser traduzido: (par) e ademais Zefa do Sete, nome próprio, nao deveria estar traduzido e muito menos para o masculino (Joseph le septième). Na minha modesta opinião o verso em francês deveria ser: “J'ai envoyé un message par Zefa do Sete or du Sept “
Segundo:
“on m'a emmené au bal de la Saint Janvier”, vejamos o verso em português: “levaram-me ao baile do sô Januário”, como sabemos, sô, é uma abreviação popular da língua portuguesa de senhor, não de santo, talvez confusão com a palavra são=santo e, de novo Januário, um nome próprio que não necessitaria de tradução. Então, o verso em francês ficaria: “on m'a emmené au bal de M. Januário”.
Apesar destes dois pontos referidos acima, eu acho a tradução de boa qualidade, respeitando e mantendo aquela áura especial dos poemas de Viriato da Cruz.



18 de setembro de 2013

AMANHECER


Há um sussurro morno
sobre a terra;
degladiam-se
luz e trevas
pela posse do Universo;
sente-se a existência
a penetrar-nos nas veias
vinda lá de fora
através da janela;

cresce a alegria na alma
a Vida murmura-nos doces fantasias.

Tangem sinos na madrugada
vai nascer o sol.



Agostinho Neto

11 de setembro de 2013

TUNJILA TUA JOKOTA




O grupo angolano Tunjila Tuajokota interpretando duas canções ao vivo

Os Tunjila Tuajokota são um grupo de cinco adolescentes oriundos do município de Cahombo, a nordeste da cidade de Malanje, Angola. Interpretam música de raíz tradicional da sua região e cantam em quimbundo, na forma como esta língua é falada na província de Malanje. Dois dos elementos do grupo são cegos e a sua cegueira foi provocada pelo sarampo. Isto aconteceu durante uma fuga da guerra, que eles, enquanto crianças pequenas, e as suas famílias foram forçados a fazer durante dois anos pelo interior do mato.


Texto retirado do blog http://amateriadotempo.blogspot.co.uk/

OMBERACIMBO




Mulheres Ovakuvale (Mukubal), foto de Luca Gargano


Se pudesse escolher uma única estação...
talvez a Primavera:
rebento, retorno da vida,
narciso amarelo ou verde coração;


talvez o Verão:
sopro do sol, búzio do mar,
ramo de hera ou travo de limão.


E o silêncio, de grito roto e frio,
no fundo coração,
uma chaga de saudades
– fumando seu cachimbo
murmura: Ombera... Omberacimbo!

Namibiano Ferreira

8 de setembro de 2013

TEMPORAL



Chegas sempre com as marés do final
da tarde. Uma canoa solta nas águas salgadas.
Primeiro são os olhos que se recusam ancorar
em ti, mas depois os dedos remam devagar
sobre a água tépida que a tua pele transpira.
Uma onda, duas, e o mar inteiro desequilibra
o meu navio.


Acende-se ao longe um farol. Mas não
queremos um cais sereno, uma margem tranquila
aonde chegar. O facho semeia promessas
sobre as vagas, promete a fuga à tormenta
que nos abala, que nos lança um contra o outro.
Mas não! Que se apague o farol. Que desapareça
o facho na escuridão letal.


São minhas as algas que te amarram o sossego,
que te prendem a respiração. Mas são nossas as velas
que se rasgam do mesmo vendaval.



Jorge Arrimar

4 de setembro de 2013

CINGANJI - [t∫inga:ndji]


Cinganji [t∫inga:ndji], figura mítica da etnia Ovimbundu, é um elemento emblemático associado à exaltação cultural, geralmente ligada a rituais de circuncisão e mesmo animação em eventos festivos com relevante simbolismo no meio rural. A sua existência no meio urbano vem sendo acompanhada de dilema, entre a preservação e a profanação. Se, por um lado, é necessário passar a experiência de geração para geração, já por outro, não deixa de ser verdade que alguns tabus determinantes passam a ser expostos, como a proximidade com o público ao ponto de o ocinganji ser tocado, o que era suposto ocorrer apenas sob intermediação. 


Retirado do blog Ombembwa Angola de Gociante Patissa.