24 de abril de 2012

MÚCUAS


múcuas - fruto do imbondeiro


O poema abaixo, Múcuas, encontra-se editado num livro de fotografias sobre Angola. Tratam-se de  fotos da autoria de Maria Pernadas, fotógrafa amadora, natural do Lobito. O livro tem por título: ANGOLA TERRA MÃE. Se o quiser adquirir ou simplesmente admirar as belas fotos veja aqui: http://www.blurb.com/bookstore/detail/1422133


As múcuas sempre me fizeram lembrar lágrimas
negras a escorrer de mãos digitais em desespero.


Múcua: 
fruto mácula 
veludo a pingar 
mágoa negra 
lágrima seca a chorar 
escorrendo nos braços
mãos-imbondeiro
abertas aos céus 
anunciando a crescer 
desespero da terra 
povo inteiro
múcua, mákua, mágoa 
lágrima negra imbondeiro 
a chorar. 


 Namibiano Ferreira


Múcua - Fruto do imbondeiro (baobá)




12 de abril de 2012

BUALA



A Associação BUALA actua na criação e fortalecimento de pontes culturais entre África, Portugal e Brasil. Criámos uma rede de trabalho que se materializa num portal online de reflexão, crítica e documentação das culturas africanas contemporâneas, com produção de textos sobretudo em língua portuguesa e traduções em francês e inglês, de abordagem multissectorial e interdisciplinar – www.buala.org. Do significado de BUALA (casa, aldeia, comunidade na língua quimbundo) retemos esse ponto de encontro entre várias geografias e contribuições, de todos os países de língua portuguesa, celebrada na sua diversidade. O conceito de África é aqui entendido no diálogo com o mundo, e vai do Rio de Janeiro a Lisboa, com várias bases no continente africano e nas ilhas.

Em Portugues:  http://www.buala.org/pt


En Français http://www.buala.org/fr 

11 de abril de 2012

MONANGAMBA - POEMA & MÚSICA -



António Jacinto, (1924 - 1991) nasceu em Luanda, entre outros cargos foi Ministro da Cultura. O poeta é autor deste belo poema cantado e musicado por Ruy Mingas, um outro grande senhor da cultura angolana. 

Monangamba


Naquela roça grande não tem chuva
é o suor do meu rosto que rega as plantações:

Naquela roça grande tem café maduro
e aquele vermelho-cereja
são gotas do meu sangue feitas seiva.

  O café vai ser torrado
pisado, torturado,
vai ficar negro, negro da cor do contratado.

Negro da cor do contratado!

Perguntem às aves que cantam,
aos regatos de alegre serpentear
e ao vento forte do sertão:


Quem se levanta cedo? quem vai à tonga?
Quem traz pela estrada longa
a tipóia ou o cacho de dendém?
Quem capina e em paga recebe desdém
fuba podre, peixe podre,
panos ruins, cinquenta angolares
"porrada se refilares"?

Quem?

Quem faz o milho crescer
e os laranjais florescer
- Quem?

Quem dá dinheiro para o patrão comprar
máquinas, carros, senhoras
e cabeças de pretos para os motores?

Quem faz o branco prosperar,
ter barriga grande - ter dinheiro?
- Quem?

E as aves que cantam,
os regatos de alegre serpentear
e o vento forte do sertão
responderão:
                      - "Monangambééé..."

Ah! Deixem-me ao menos subir às palmeiras
Deixem-me beber maruvo, maruvo
e esquecer diluído nas minhas bebedeiras

                         - "Monangambééé..."


ANTÓNIO JACINTO, in Poemas

5 de abril de 2012

DÉCADA DE PAZ 4 de Abril de 2002/2012


Na asa branca do ndele a PAZ anda voando década e, no entanto, nem todas as pazes foram feitas. Ainda há muitas reconciliações por fazer... Vamos fazer essas nossas pazes, reabilitar a memória de Viriato da Cruz e esclarecer o 27 de Maio de 1977, por exemplo.





PARA NUNCA MAIS A GUERRA


Viajando pelo vento dos tamarindeiros
procuro o secreto caminho
que há-de conduzir nossos passos
trôpegos e cansados
à glória de um Futuro brilhante.



Mas, ainda à sola dos nossos pés,
sujos e gretados
gruda-se o lodo informe dos mortos,
um lodo fétido gruda-se
também às nossas almas
rotas e cansadas.
Inda se ouvem os gritos
dos meninos amputados
das mulheres desventradas
e o lodo traz os tanques fantasmas,
cicatrizes disformes,
abandonados e queimados.
Caminhamos... devagar ainda
e os cemitérios de guerra
florescendo no altar dos nossos olhos
bordados de cruzes
no calcanhar triste da picada.
Vamos, irmão, esquecer o passado triste
mas num grito que não se cale nunca
para não fazer esquecer:


PARA NUNCA MAIS A GUERRA!


Namibiano Ferreira

2 de abril de 2012

PROVÉRBIO OVIMBUNDU

Indele visoneha olondaka v’amikanda, etu tuvisonehela v’olukolo. 



Bastao Cerimonial Ovimbundu


(Os brancos escrevem as questões nos livros, nós escrevemo-las no    
peito.)  





Provérbio Ovimbundu (Centro-Sul  de Angola)